quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Aleílton Fonseca recebe a Comenda do Mérito Cultural


As 30 personalidades e instituições receberão a homenagem no Dia da Cultura, 5 de novembro, às 20h,em evento no Teatro Castro Alves

“Buscamos reconhecer e homenagear personalidades e entidades – sejam baianas, brasileiras e estrangeiras – que desenvolveram a cultura na Bahia. O reconhecimento e a homenagem são simultaneamente um dever, um modo de legitimação necessário à dinâmica cultural e uma maneira de estimular todos aqueles que, nos mais diversos campos, trabalham e engrandecem a cultura na Bahia. A Comenda foi imaginada de forma participativa, garantindo a toda comunidade cultural e sociedade baiana a possibilidade de indicar nomes, mas também rigorosa e democrática, pois a seleção final foi realizada com base nos nomes indicados por comissão qualificada composta por representantes de relevantes instituições culturais da Bahia, além da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia”, afirma o secretário de cultura do Estado da Bahia, Albino Rubim.
 
O professor Aleílton Fonseca, do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana (DLA), é um dos 30 representantes da cultura da Bahia que receberão, no Dia Nacional da Cultura, 5 de novembro, a Comenda do Mérito Cultural. A homenagem, concedida pela primeira vez pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, visa reconhecer personalidades e instituições que contribuíram com a valorização da cultura no estado.
São dez integrantes de cada uma das três categorias: Júnior, Sênior e Póstuma. O evento no Teatro Castro Alves terá direção de Elísio Lopes Júnior e irá reunir diversas linguagens artísticas em um espetáculo multimídia.
Na categoria Júnior, destinada a personalidades ou instituições em ascensão no cenário cultural, receberão a Comenda a Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu – ACBANTU, o dramaturgo, escritor e ator Aldri Antonio Alves da Anunciação, o poeta e escritor Aleilton Fonseca, o músico Carlinhos Brown, o centro de conhecimento, cultura e inclusão social Cidade do Saber, localizado em Camaçari, o Circo do Capão, o diretor teatral Fernando Guerreiro, atual diretor da Fundação Gregório de Mattos, a atriz e cantora Laila Garin, o maestro Ricardo Castro e a Orquestra Santo Antônio, de Conceição do Coité.
A categoria Sênior, que contempla nomes já consolidados e de relevância incontestável para a cultura baiana, terá como agraciados a Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê, o professor e historiador Cid Teixeira, o músico Elomar Figueira Mello, o escultor, curador e museólogo Emanoel Alves de Araújo, o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, o professor e cineasta Guido Araújo, aIrmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, a ialorixá e escritora Mãe Stella de Oxóssi, a escritora e poeta Myriam Fraga e o Teatro Vila Velha.
Já a categoria Póstuma, que deverá ser entregue aos familiares dos agraciados, inclui personalidades de reconhecida atuação em prol da cultura baiana: o arquiteto Diógenes de Almeida Rebouças, o músico Dorival Caymmi, o médico e criador e reitor da então Universidade da Bahia, Edgard Santos, o cineasta Glauber Rocha, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o escritor Jorge Amado, o artista plástico, escritor e sacerdote afro-brasileiro Mestre Didi, os mestres fundadores da Capoeira Pastinha e Bimba, o geógrafo Milton Santos e o produtor, dramaturgo e ator Ruy Cezar.
Para homenagear os 30 agraciados com a Comenda, o diretor Elísio Lopes Júnior está preparando uma “performance plástico-musical”, através das diversas sonoridades e estéticas da Bahia. “No meu entender, os homenageados estarão no palco para serem homenageados e aplaudidos. O que eles tinham que fazer, dizer e criar já está feito. Então eles serão trazidos à cena para receberem suas Comendas sob o olhar e o aplauso da plateia, e o nosso papel é preparar essa cena para recebê-los. O verdadeiro espetáculo é a obra desses criadores geniais”, antecipa Elísio Lopes.
O espetáculo contará com uma instalação plástica especialmente concebida por Renata Mota, coreografia de Zebrinha, direção musical de Jarbas Bittencourt, iluminação de João Batista, figurinos de Zuarte Jr e Carine Cedrashi, e trabalho de VJ de Gabiru.
Sobre a Comissão
A Comissão que selecionou os premiados foi formada pelo secretário Estadual de Cultura e mais 15 membros representantes das seguintes instituições: Associação Baiana de Imprensa, Academia de Ciências da Bahia, Academia de Letras da Bahia, Centro de Culturas Populares e Identitárias da SecultBA, Conselho Estadual de Cultura, Fundação Cultural do Estado da Bahia, Fundação Pedro Calmon, Instituto dos Arquitetos do Brasil – Departamento da Bahia, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Sindicato dos Artistas e Técnicos em Diversões do Estado da Bahia, Superintendência de Promoção Cultural da SecultBA, Superintendência de Desenvolvimento Territorial da Cultura da SecultBA, um representante das universidades estaduais da Bahia e um representante das instituições federais de ensino superior da Bahia.
A Comenda do Mérito Cultural foi instituída pelo Governo do Estado através do decreto nº 14. 917, de 08 de janeiro de 2014, no âmbito da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. As indicações para a Comenda foram feitas pela sociedade – pessoas físicas e jurídicas – que enviou sugestões por meio de preenchimento de formulário online, totalizando 991 indicações. A Comissão escolheu os agraciados entre esses indicados. Excepcionalmente neste primeiro ano, serão concedidas 30 comendas. A partir do segundo ano, serão concedidas 15 comendas, sendo cinco em cada uma das categorias.

Fonte: Secretaria de Cultura da Bahia 
Feira de Santana, 27/10/14
Disponível: http://www.uefs.br/portal/noticias/2014/professor-aleilton-fonseca-recebe-a-comenda-do-merito-cultural
 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

“A CURA DE TUDO ESTÁ NO JEITO DE NARRAR”




Entrevista com Aleilton Fonseca
Por: Érica dos Santos


1- Em algumas de suas obras é possível perceber a realidade de algumas cidades do interior sendo retratadas. O que o levou a ser um escritor de histórias tão próximas do cotidiano baiano?



Resposta: Desde criança sou muito observador e curioso, embora também muito discreto. Sou nascido, vivido e viajado na Bahia. As paisagens, os valores, os fatos, as vivências que registrei em minhas andanças pela vida, nas cidades do interior, ficaram como impressões e inquietações em minha memória. Vi muitas realidades e li muitos textos. Ao me tornar escritor, essas experiências vividas, observadas, lidas e imaginadas se tornaram a matéria-prima de minha escrita literária. Por uma opção pessoal, eu procuro inserir na literatura as paisagens do interior, as personagens simples do povo, com sua cultura, seu imaginário, sua linguagem, sua visão de mundo e seus saberes, a fim de que não ficassem à margem da cultura letrada brasileira.
 
2- Qual o livro mais marcante que já leu até hoje (Poderia citar aqueles que possivelmente o tenha influenciado na trajetória como escritor)?


Resposta: Foram muitos livros marcantes, que direta ou indiretamente me influenciaram na trajetória de escritor. Destaco Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, São Bernardo, de Graciliano Ramos; Os galos da aurora, de Hélio Pólvora; Poesia completa, de Carlos Drummond de Andrade; Mar absoluto, de Cecília Meireles; Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa; Sargento Getúlio, de João Ubaldo; Luanda, Beira, Bahia, de Adonias Filho; Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado; A hora da estrela, de Clarice Lispector. E muitos outros.
3- Quando e por que decidiu ser escritor? Como se dá o seu processo criativo hoje?



Resposta: Aos 18 anos, passei a escrever e publicar contos e poemas nos jornais; decidi fazer o curso de Letras e me dedicar à literatura como profissão, como professor de literatura e escritor.  Aos 21 anos publiquei meu primeiro livro, Movimento de sondagem (poesia). Como todo escritor, sempre me surgem novas ideias, então eu seleciono as ideias viáveis, reflito sobre a forma de desenvolvê-la, faço um plano e começo a escrita. Na escrita, o tema vai se desenvolvendo, o texto vai tomando forma, sempre com muitas mudanças, reescritas e correções. Quando tenho uma primeira versão do texto, peço a alguns amigos escritores para ler, criticar, opinar, sugerir. Depois reflito sobre essas leituras e as opiniões, e vou reescrevendo até considerar que o texto esteja pronto para publicar. É um trabalho longo, que leva tempo e requer muita disciplina de trabalho e exercício de autocrítica.

4- Em alguns contos, da obra O canto de Alvorada, há personagens que retornam ao passado em busca de esclarecer verdades.  Nos contos o ato de narrar surge quando há uma necessidade de falar sobre sua própria experiência. Qual seu posicionamento sobre o poder da narrativa em nossas vidas?



Resposta: “A cura de tudo está no jeito de narrar”, afirma a narradora do meu romance Nhô Guimarães. De fato, a narrativa é uma forma de retomar o passado, através da memória, e submetê-lo de novo à vivência presente para decifrar e entender melhor o passado, tomar conhecimento do presente e mudar o futuro. A narrativa é fundamental em nossa vida, como transmissão das experiências, e como meio de autoconhecimento.  


5- De onde vêm as suas personagens? São inspiradas em pessoas reais ou criadas?



Resposta: As personagens vêm da observação da realidade e são moldadas pela imaginação. Todas as personagens são criadas, ainda que a realidade possa oferecer fatos, situações e informações como matéria-prima da escrita literária.

6 - Como concilia vida de escritor com a de professor universitário?



Resposta: É difícil, mas é possível conciliar as duas atividades afins. Não  separo as duas faces da mesma moeda: sou um escritor que dá aulas, sou um professor que escreve. E me sinto muito bem com esse duplo modo de ser.

7- Qual elemento é mais importante na narrativa para o senhor?  O senhor começa a construção de suas histórias por qual deles? (conflito, personagens, enredo, narrador)



Resposta: O elemento mais importante é o tema, que se desdobra no enredo e determina a perspectiva do narrador e a configuração das personagens.

8- Dentre as suas obras, qual personagem é o seu “preferido”? Por quê? Tem algum significado especial?



Resposta: Todas as obras são preferidas, por razões diversas, com maior ou menor grau, em situações específicas. Destaco o livro de contos “O desterro dos mortos” (2001) que reflete uma escrita, na qual eu procurava responder e entender várias questões que me incomodavam, em torno da questão da morte e das relações pessoais e das trocas afetivas. O pêndulo de Euclides (2009) é um romance que responde algumas questões que me incomodavam desde a adolescência. E o livro de poemas As formas do barro (2006) reúne minhas percepções líricas de várias situações e experiências de vida.
9- Seu gosto pela leitura começou desde cedo? Como ocorreram seus primeiros contato com a literatura? 


Resposta: Logo após ser alfabetizado, aos 8 anos descobri meu gosto pela leitura, sempre curioso com as histórias e impressionado com as palavras. Meus primeiros contatos com a leitura se deram em casa e na escola, onde havia uma pequena biblioteca, à qual eu tomava livros emprestados e os devorava no mesmo dia.

10- Quais são seus autores de referência e admiração?  Poderia indicar possíveis influências em suas produções, especialmente na obra O canto de Alvorada.


Resposta: São muitos autores, como Victor Hugo, Baudelaire, Poe, Kafka, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Fernando Pessoa, José Lins do Rego, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Hélio Pólvora, Jorge Amado, Adonias Filho, Guimarães Rosa, Cecília Meireles, Drummond, Clarice Lispector. E muitos outros. Todos os autores lidos são referências, e, especialmente em O canto de Alvorada, creio que as leituras de Guimarães Rosa, Hélio Pólvora e Graciliano Ramos são marcantes nos enredos e nos modos narrativos.

11- É perceptível na obra O canto de Alvorada contos envolvendo animais, o que esta preferência poderia indicar acerca do seu processo de escrita? 


Resposta: É comum aparecerem animais nos enredos literários. Nos meus contos eles parecem como seres mediadores de trocas afetivas entre personagens, revelando os meandros e a complexidade das relações interpessoais.

12- No prefácio do livro O canto de Alvorada, Aramis Ribeiro Costa diz que a morte é o seu tema preferido, qual a razão da escolha por este tema?


 Resposta: A morte é um tema muito presente nos contos, mas de modo contingente, pois no fundo o tema é a vida com suas ciladas, epifanias, circunstâncias e complexidades.