quinta-feira, 30 de julho de 2009

ZARFEG ENTREVISTA ALEILTON FONSECA


Por: ZARFEG

Além de poeta, contista, romancista e membro da Academia Baiana de Letras, Aleilton Fonseca é professor-doutor na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Nessa condição, ele esteve no mês de outubro em Teixeira de Freitas (BA) para participar do 1º Colóquio de Literatura Baiana, evento realizado pelo Departamento de Letras do Campus X da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Antes de proferir a conferência “A literatura baiana em questão”, Aleilton Fonseca concedeu uma entrevista ao poeta e jornalista A. Zarfeg, que os leitores do Traquejo, desde já, estão convidados a partilhar.

Pergunta: O que representa este 1º Colóquio de Literatura Baiana aqui na Uneb de Teixeira de Freitas?

Resposta: Representa muito, inclusive para mim. Afinal, esta é a segunda vez que eu retorno a Teixeira de Freitas, atendendo ao convite da Uneb através das professoras Enelita e Ivana. E é com muita satisfação que eu estou aqui para falar de literatura. Porque literatura é a minha escolha de vida, eu me dedico à literatura todo dia como professor, ensinando e promovendo. Eu leciono literatura para que os alunos conheçam nossos autores e também escrevam. Eu escrevo e gosto muito de fazer isto: viajar para falar de literatura, principalmente na universidade. E principalmente quando reunimos os jovens, estudantes de letras, futuros professores e alguns dos quais autores no futuro. De modo que é muito bom conversar sobre literatura.

Pergunta: Professor, o sr. também está envolvido com a edição da revista literária Iararana, que vem publicando os textos dos novos autores baianos. Através da revista o sr. tem mantido contato com um sem-número de autores. Que análise faz da produção baiana atual?

Resposta: Iararana é uma revista de arte e crítica literária em Salvador. É uma revista que tem vários jovens escritores, além de escritores já experientes. Alguns desses escritores jovens que escrevem na revista têm se projetado e publicado livros. A revista tem sido muito comentada, muito bem aceita em vários lugares, até no estrangeiro. Fizemos lançamento dela na França e na Hungria. A revista é um panorama da produção literária baiana e brasileira atual. Então, o panorama é cada vez mais rico. Cada vez mais temos autores de poesia, de ficção, seja conto, crônica ou romance, que aparecem e que precisam ser lidos.

Pergunta: Pelo visto, a revista constitui um instrumento eficaz para fomentar a leitura, não é, professor?

Resposta: Exatamente. O que nós precisamos muito na Bahia é fomentar a leitura, porque, havendo leitores, certamente os autores se sentirão mais encorajados e irão publicar seus livros e escrever novos trabalhos. É preciso um trabalho incansável para divulgar a literatura, criar hábito de leitura, dizer às pessoas da importância da habilidade de ler. Com isso, promover a criação literária e os autores.

Pergunta: Um dos aspectos interessantes que eu observo em sua obra é que, à medida que o sr. vai criando e publicando, também se reserva o direito de mexer na criação, de refazer sua obra. Trata-se de uma obra em processo. Como se dá isso?

Resposta: Esse procedimento é bastante característico da modernidade. Desde Baudelaire, que escreveu As flores do mal. Para se ter uma idéia, ele reescreveu esse livro nas sucessivas edições. Outros autores, como Eliot, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa, também fizeram uso do mesmo expediente. Ou seja, trata-se de um compromisso que cada autor tem com seu texto. Uma vez o texto feito, uma vez publicado, o autor não o abandona, está sempre voltando, reescrevendo, mexendo na estrutura, mexendo numa palavra. Isso é um procedimento normal da modernidade. E mostra que, de uma edição a outra, o autor tem realmente o direito de acrescentar, cortar, mudar uma palavra.

Pergunta: Jorge Amado seria uma exceção, pois ele não gostava de mexer na obra, uma vez publicada...

Resposta: Mesmo Jorge Amado, que dizia não mexer nos seus escritos. No entanto, nos seus manuscritos há anotações, vêem-se os traços de lápis das modificações que ele introduzia na obra até deixá-la pronta. O fato é que hoje só podemos dizer que uma obra está pronta quando o autor morre. Morreu o autor, ele não vai mais poder mexer na obra. Mas, enquanto vivo, o autor tem o direito e muitas vezes o empenho de modificar o seu trabalho.

Disponível em: http://www.traquejo.com.br/entrevistas.php?id=8 acessado em 28/07/2009

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