quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Aleilton Fonseca recebe medalha da Academia Brasileira de Letras


Abaixo Aleilton Fonseca

O professor e escritor Aleilton Fonseca, do Departamento de Letras e Artes da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), recebeu, esta semana, a Medalha Euclides da Cunha, outorgada pela Academia Brasileira de Letras (ABL). A honraria foi concedida a diversos intelectuais que se destacaram em 2009, através de livros e conferências, nas comemorações do centenário de morte do autor do livro Os Sertões.

Aleilton Fonseca publicou este ano o romance O Pêndulo de Euclides, com repercussão na imprensa e nos meios literários. Trata-se de uma ficção que retoma a viagem de Euclides da Cunha ao sertão de Canudos, no tempo da guerra sertaneja de 1897, trazendo à tona vários questionamentos, através da voz dos narradores canudenses.

Medalha ABL1 - Aleilton Medalha ABL3 - Aleilton

Representando a Uefs, Aleilton participou de vários eventos culturais, lançando a obra e fazendo conferências sobre o tema, em várias cidades do país. Esteve presente em livrarias, universidades e instituições como Pen Clube do Brasil, Academia de Letras da Bahia (ALB), Fórum das Letras de Ouro Preto, Bienal do Livro do Recife, nas Universidades Federais do Rio de Janeiro, de Ouro Preto, e de Juiz de Fora, na Uesc, e também nos campi da Uneb, em Teixeira de Freitas, Euclides da Cunha, Coité e Barreiras.

Ainda em 2009, Aleilton Fonseca foi homenageado pela Ufba, pela ALB e pela Academia de Letras de Jequié pela passagem de seus 50 anos. Em abril deste ano, Aleilton Fonseca recebeu uma homenagem no Lycée des Arènes, da cidade de Toulouse, na França, com uma exposição de trabalhos artísticos dos alunos, que foram inspirados nos temas dos contos de seu livro Les Marques du Feu et outres Nouvelles de Bahia (As Marcas do Fogo e outros Contos da Bahia). Na oportunidade, o professor da Uefs também fez uma palestra na Universidade de Toulouse Le Mirail. Para Aleilton Fonseca, 2009 foi o ano mais produtivo de sua trajetória acadêmica e intelectual.


Euclides da Cunha

Disponível em: http://www.uefs.br/portal/noticias/2009/aleilton-fonseca-recebe-medalha-da-academiaacessado em 24/12/09

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Resenha - Construções identitárias na obra de João Ubaldo Ribeiro



Memória, história e ficção

Aleilton Fonseca

A configuração identitária dos povos nunca foi um processo claro e pacífico. A história tem mostrado como as diferenças provocam conflitos, levam à intolerância e à discriminação. Em face disso, a literatura muitas vezes se torna uma forma de representação crítica, mostrando a crueza e o absurdo de realidades que precisam ser compreendidas e superadas. A obra de João Ubaldo Ribeiro mostra-se atenta a essas questões, ao abordar diversos aspectos da formação social do povo brasileiro.

O livro de Olivieri-Godet debruça-se sobre as construções identitárias do autor de O albatroz azul, para examinar uma das facetas mais significativas de sua obra. A ensaísta, que leciona na Universidade de Rennes 2, na França, já publicou diversos artigos sobre as representações literárias das relações culturais contemporâneas. No novo ensaio, ela analisa Viva o povo brasileiro, Vila Real, o Feitiço da ilha do pavão, A casa dos budas ditosos, as crônicas do livro Um brasileiro em Berlim, além de contos do livro podeis da pátria filhos. Godet aborda os textos ficcionais a partir de uma conceituação teórica específica, citando autores brasileiros e franceses, como Antonio Candido, Silviano Santiago, Zilá Bernd, Francis Utéza, Georges Bataille, Gérard Genette, Gilles Deleuze, e os caribenhos Patrick Chamoiseau, Édouard Glissant, entre outros.

Nos quatro capítulos do livro, a autora estabelece conexões entre as obras de Ubaldo e as questões identitárias, demonstrando suas recorrências, seus significados e sua abrangência. Com isso, insere a literatura brasileira na problemática das identidades, como ponto de partida para situar o lugar ocupado por João Ubaldo nesse universo temático. Seu estudo aponta o percurso do ficcionista, desde a tendência carnavalizante de Vencecavalo e o outro povo (1974), passando pelo neo-realismo de Vila Real (1979), até chegar a uma ficção que “faz coexistir uma visão épica e dramática com a perspectiva carnavalesca, que, cada vez mais, terá tendência a se impor em sua obra” (p. 28).

Em suas análises, Godet anuncia que, em João Ubaldo Ribeiro, “a problemática da identidade nacional afasta-se da homogeneização dos traços culturais, privilegiando uma representação plural da identidade brasileira” (p. 28). Para demonstrar seu ponto de vista, ela coteja os textos ficcionais com o aparato teórico, privilegiando a articulação entre as estratégias narrativas e as figurações identitárias operadas pelo escritor.

O ensaio correlaciona memória, história e ficção, e aproxima identidade, território e utopia, mostrando marcas da voz autoral, intertextualidades, técnica e estratégias narrativas. Segundo a autora, Ubaldo implode estereótipos, instaura a pluralidade de vozes, revelando a face obscura e conflituosa da formação identitária brasileira.

Godet mostra como os textos de João Ubaldo refletem sobre os dilemas de nossa época, ainda marcada por reações de intolerância diante de certas manifestações da diversidade cultural e identitária. Dessa forma, considera que sua ficção contribui para que entendamos melhor a sociedade em que vivemos, identificando seus conflitos e suas possíveis soluções.

Resenha do escritor Aleilton Fonseca, publicada no Jornal do Brasil.
Ideias & Livros, em 5/12/2009, p. 6.

Construções identitárias na obra de João Ubaldo Ribeiro
Rita Oliveri-Godet (São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro: ABL; Feira de Santana: Editora da UEFS, 2009).

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Próximos eventos...

Projeto Travessia das Palavras

Local: Biblioteca Central de Jequié - BA

Data: 28/11/09

Horário: 19h e 30mim

Realização: Academia de Letras de Jequié

Não deixem de estar nessa Travessia encantada pela prosa e poesia do Professor e escritor ALEILTON FONSECA!




Seminário Euclides da Cunha: Cem anos Sem

Local: Juiz de Fora - MG

Data: 25, 26 e 27/11/09

Realização: Museu de Arte Murilo Mendes da UFJF e o Cenrtro de Ensino Superior de Juiz de Fora

Aleilton Fonseca se faz presente com a palestra: CANUDOS E O PÊNDULO DE EUCLIDES: Novas vozes, outras viagens, no dia 27 às 17 h.

Não deixe de adentrar a história, a literatura e o sertão ao lado das vozes que não deixam calar a voz de Euclides, a voz do sertão!

Clique na imagem para mais detalhes.

sábado, 14 de novembro de 2009

Entrevista com ALEILTON FONSECA , Revista Muito

Foto: Irachema Chequer | Ag A TARDE

Saiu na revista MUITO, do jornal A Tarde, do domingo dia 08/11/09, no "Entre Aspas" uma entrevista com Aleilton Fonseca, a qual segue um trecho.


Por: Kátia Borges

Leia trechos inéditos da entrevista com o escritor Aleilton Fonseca, autor de Nhô Guimarães e O Pêndulo de Euclides.

Embora professor, mestre e doutor, você parece manter-se longe do “encastelamento”, da “torre de marfim”. Que análise faz da cena literária baiana, com o qual interage e que conhece bem?
A torre de marfim é uma prisão. A ação literária precisa ter uma dinâmica coletiva, pois a literatura é um acervo de saberes para ser compartilhado. A cena literária baiana é muito produtiva. Mas falta ainda na Bahia uma política eficiente de formação de leitor e de distribuição do livro, de modo a elevar os índices de leitura e de formação de acervos. Os autores baianos encontram muita dificuldade para obter reconhecimento em sua própria terra. O reconhecimento tem de vir primeiro do centro-sul, o que os obriga a lutar por editoras do Rio e de São Paulo para existirem nas livrarias. Isso é uma luta árdua e nem sempre chega para todos, nem é suficiente para projetar seus nomes. O trabalho do escritor é árduo e os resultados não são garantidos. Creio que deveríamos nos unir, em busca de uma solução coletiva. Afinal, o brilho do céu não se faz com uma ou duas estrelas, mas com a luz das diversas constelações.

Eu o conheci primeiro pelos contos e pela poesia. Qual o espaço que ocupam hoje em sua vida?
A poesia e a ficção são importantes no meu dia a dia de escritor, professor e pesquisador de literatura. Publiquei livros de poesia, ensaios, contos e romances. Participo de várias antologias nacionais e algumas internacionais de contos e de poesia. É claro que a ficção me trouxe um reconhecimento maior e me firmou como escritor, tornando-se a vertente mais forte de minha produção literária. Mas uma coisa é certa: prefiro ser romancista.

Você se considera um autor sertanejo, em contrapartida a ter a literatura urbana como objeto de pesquisa?
Sou um escritor, no sentido substantivo do termo. Na poesia e na prosa, escrevo sobre cidade e sertão, com forte inclinação para os temas interioranos, mas em consonância com as questões urbanas. Estou em trânsito, numa viagem que a cultura faz cotidianamente, entre universos em diálogo constante, tenso, rico e indispensável. O que interessa são as questões, os valores e as soluções que precisam ser discutidos, compartilhados e resolvidos. O campo tem muito a ensinar à cidade e vice-versa.

Como se sente ao chegar aos 50 anos de idade e 30 de vida literária?
Sinto-me muito bem, pessoal e profissionalmente. Tenho 12 livros publicados, além de participar de vários outros. Já surgiram vários artigos, ensaios e resenhas sobre meus livros. O Instituto de Letras da UFBA fez um seminário comemorativo de meus 50 anos, através do projeto O escritor e seus múltiplos. O evento foi organizado pela Profª Antonia Herrera e pela bolsista Lisiane de Oliveira Souza, em reconhecimento ao meu trabalho. Como escritor, sinto-me reconhecido e gratificado.

Quais projetos mobilizam agora a sua atenção?
De agosto até novembro, estou cumprindo uma agenda de 16 viagens, para participar de eventos literários, fazendo palestras, dando minicursos e lançando o romance O pêndulo de Euclides. Ao final, terei ido a 6 estados, a várias cidades. Ao lado disso, dou minhas aulas de literatura na UEFS e participo das atividades da ALB. Tenho alguns projetos de livros em andamento, em crônica, conto, romance, poesia e ensaio. Eu trabalho com literatura todo dia, o dia todo. Assim, sinto-me útil e me realizo como pessoa. No mais, é tocar a vida, tendo a literatura como alimento, realidade e sonho.


Disponível em: http://revistamuito.atarde.com.br/?p=3532. em 14/11/09

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A última partida



Aleilton Fonseca

Num mais que de repente, Linco ia se levantar dali de um pulo, com sua risada de mangação. A certeza nos aliviava, por hora, de uma dor mais funda. Pois se ele era tão fingido, nos metendo cada susto! Era só um esperar, os adultos se preparassem, que nem precisava lotar a sala de tanta gente para o maior efeito. Ele estava debaixo do lençol, bem quietinho, sobre o banco de madeira rústica. A gente queria ver de perto, era difícil.

Linco era assim mesmo, imprevisível, sempre que presepando coisas. Na maré, que corria ao fundo de nossas casas, ele inventava ondas. De uma vez das tantas, tomávamos um banho num fim de tarde. De mergulho em mergulho, ele sorveteu-se nas águas; nós esperamos que voltasse à superfície... e nada! Caímos em desespero:

– Linco sumiu, gente!

– Ele se afogou!

Os companheiros e eu tremíamos de assustados, quase nem tomando o ar correto, a gente escarafunchava as águas, nos mergulhos de busca. Abríamos os olhos, que ardiam, mais do que salinados, já com as lágrimas brotando.

– E agora?

Um silêncio nos assaltou, a maré nos pareceu monstruosa, doida para nos engolir também. Mergulhar desse jeito afoito dava logo um cansaço. A gente precisava boiar juntos, de mãos dadas, desfadigar. Então, ouvimos o desgramado, que saboreava a maior gargalhada, se enganchando nos galhos do manguezal. Ele prendera o fôlego, nadara por debaixo, voltando à tona escondido nas ramagens. Tudo isto um apronte só, o tinhoso, para colher de nós uns risos sem graça entre a raiva e o alívio.

Agora, ali na sala, cadê que não se denunciava logo em nova traquinagem? Acontecera de supetão, corremos à casa de Linco, depois de um certo rebuliço havido por lá. De logo a gente não dava passagem ao real, ele deixasse de manha! Isto já estava para lá de um despropósito. Era um demais, pois olhem o estado da mãe, coitada!

Estávamos atordoados, acotovelando-nos entre os adultos. Encostados à parede, a gente se firmava na ponta dos pés. O manhoso se levantaria dali – é claro! – dando o maior susto no povo. Era o caso para umas boas risadas. Linco estava para além das margens, nos seu exagero. Depois, depois...

Mas, que manchas eram aquelas, de um modo avermelhado, ensopando uns quantos pontos do lençol? A gente espichava-se em mais um apuro de prestar atenção. Linco, ali debaixo, encoberto, a mãe dele se desconsolava num canto, amparada no abraço da irmã. Dona Aurora se revelava em desespero, uma noite imensa invadia seu rosto e já clareava o nosso entendimento. Houvesse mais coração para tanto pulo, a gente se via à beira de um choque. Mas como podia ser isso com ele? E com cada um de nós também podia, pois lençol, banco e sala todos tínhamos em casa.

Era um sábado. E amanhã haveria o jogo de bola, nosso time todo montado nos acertos de Linco. Era a final do campeonato de bairros, que a gente mesmo organizava para distrair aos domingos. Ponta da Pedra, nosso esquadrão azul e branco, trajando as camisas que a Prefeitura nos dera, por pedido escrito e insistências de Linco. E o adversário não era mole! Enfrentar as feras do Malhado, uns até mais velhos que nós, e bons de bola, era fogo. Mas Linco bem que traçara uma tática nova. Como líder e goleador, garantia que íamos ganhar o troféu. E até fizera aposta de honra contra o dono do time inimigo. Quem perdesse teria de tomar banho no rio, todo nu, calado, sem poder revidar a gracejos nem gozações.

Agora, porém, eis que Linco... Mas como foi? Por quê? De déu em deu, a história se desatava nos sussurros, mas, para a gente, não assentava por certo haver o amigo em tal estado. Linco fora cedo para a praia desafiar as ondas, como gostava de fazer. Na volta, acabara recolhido naquela situação.

Este fato era difícil aceitá-lo, aquilo é que não podia! Linco desistisse do mau gosto, fosse dormir mais cedo que amanhã haveria um jogo duro. O time do Malhado não alisava, com suas jogadas e tramóias, dava de seis a zero na gente com facilidade. Mas, isto, só se Linco não jogava. Era quando ele ia cumprir as ordens da mãe, fazer lição de casa, estudar para as provas, sem outro jeito de escapar.

– Primeiro a obrigação, depois a distração, – era o lema de casa.

Sem Linco nosso time era pato. Com ele sobravam as diferenças. Sob o seu comando a gente não se intimidava. Ele arranjava sempre uma das suas mais novas artimanhas. De cochicho em cochicho nos dava todas as dicas, nos colocava na função certa em cada parte do campo. A gente perdia por placar apertado, sem fazer feio. Outras vezes íamos vencendo, com sorte e com jeito. Foi assim, de gol em gol, chegamos à decisão do torneio, para surpresa de todos.

De uma outra vez, estávamos abatidos no aperto de cinco a zero, numa partida de seis. Era justo contra o temível Malhado. Perder de seis a zero, uma lavada para dúzia e meia de gozações! Nosso craque esmoreceu, comentava alto para todos:

– O jogo está perdido, não adianta! – e atirava a bola para o lado, atrasava-a para o goleiro.

Linco era o único jogador de nosso time que inventava medo aos adversários. Mas, naquela altura do jogo, parecia preso por um cansaço. Perambulava em campo, quieto, sem dar parte na disputa. Os caras do Malhado relaxaram, deram por ganho o combate. Era só questão de a qualquer momento marcar o gol de misericórdia e ir mergulhar no rio, zombando de nosso “timinho”. Eles começaram a fazer firulas, com toques desconcertantes e às gargalhadas, dando um banho de olé na gente. A platéia de fora se deliciava. Os demais meninos de nossa rua, entre aflitos e conformados, se contorciam. De repente, apertamos a marcação, a bola deu rebote e foi quicando de flerte com Linco. Ele a tocou como quem não quer nada e, sem mais nem menos, inventou um chute torto e certeiro. No ângulo. Este gol nem o comemoramos dada a indiferença do próprio artilheiro.

– É o gol de honra – ele murmurou, cabisbaixo.

Os meninos de Malhado nem sequer se assutaram. Continuaram desperdiçando as chances de vencer, mais interessados em nos dar aqueles dribles, colocando a gente na roda de bobo. Lá vai, de novo, a bola lhes escapava. Linco apanhou a sobra e lá se foi nas fintas; deu um chute, agora chocho e enviesado, deixando o goleiro com cara de besta.

– Este é para a goleada não ficar muito feia – ele comentou, sem alarde.

A coisa ficou por conta. O pessoal do Malhado se ressabiou, atirando-se todo ao ataque, seis a dois ainda renderia uma boa pilhéria. Já o nosso goleiro, mais animado, se pôs a subtrair os graus dos piores ângulos. E a bola passava raspando, mas não entrava. Eu, reles zagueiro, com as canelas ardendo, me afogava no suor. Chutava para qualquer lado, procurando acertar as moitas de capim bravo, que dava tempo de respirar um alívio. E Linco, rente ao meio de campo, estava só que olhava o jogo acirrado sobre nossa defesa, num desinteresse de irritar. Lá um lance, a bola rebateu em minha cabeça e se foi aos caprichos de Linco, num contra-ataque fulminante. Ele rompeu nas costas de um zaqueiro que perseguia as suas pernas serelepes. Não houve senões, o goleiro avançou firme, mal-encarado. Linco ziguezagueou-lhe um drible e o plantou na lama, com a bola na rede.

Cinco a três era já um acinte, os caras do Malhado endureceram de vez, dando-nos rasteiras e pontapés explícitos. E já se desentendiam em campo, trocando entre si uns feios xingamentos. Linco, sempre em surdina, de cócoras, em campo, colhia uns matinhos e os mastigava, todo matreiro. Num avanço da defesa, o Malhado quase lavrava a fatura, mas nosso goleiro operou a mágica com as pontas dos dedos. A bola sobrou na minha frente, eu a chutei a esmo, sem querer encontrei Linco e já fui vibrando contrito, o gol era questão de segundos... pronto! O jogo em quase que empate. Cinco a quatro feria a honra do Malhado. Eles deram a nova saída, com as caras entufadas. O jogo passava dos limites. Nesta demora, as cigarras já nos recomendavam recolher a bola, a tarde já se ia turvando.

Já entendíamos o plano de Linco: ele se fazia de morto para ser visitado. Os malhadenses discutiam forte, erravam passes, os afobados, numa ânsia de nos liquidar de vez com o sexto gol. Armaram um abafa sobre nós, chutaram um petardo venenoso, nosso goleiro espalmou para escanteio. Linco intuiu o lance e recuou para nos ajudar. A bola alçada à nossa área, ele a matou no peito e a pôs no chão em desabalado rompante. Os caras, desesperados, gritavam para os da defesa:

– Pega! Agarra! Não deixa!

Qual o quê?! Linco rodopiava, deixando os zagueiros para trás, pulava para escapar de uma rasteira, se retorcia todo mole para fugir dos agarrões. E pimba! Entrou com bola e tudo, deixando o goleiro órfão e humilhado, prestes ao choro. Eis aí, mestre Antonio: o jogo estava empatado! Os “craques” do Malhado caíram de suas torres, fulminavam-se uns aos outros com raiva e nos assassinavam com o olhar. Culpavam a defesa e o goleiro, que maldiziam os atacantes. A gente nem tico nem taco! Era só tocar a bola, de olho nas treitas de Linco.

– Quem fizer um gol ganha! - o maioral deles vociferou o óbvio.

A gente conspirava em silêncio. O Malhado se perdia de vez em campo. Mas insistia, desordenado, em busca do último gol. Nossas pernas se multiplicavam, na resistência. Mais tarde, um menino vinha decretado com um aviso. A mãe de Linco o estava chamando, era a ordem de ir para casa. A gente queria aproveitar a chance de vencer, mas sem ele no ataque não dava.

– Vamos ganhar logo, que eu estou de partida.. – ele disse, bem animado.

Linco correu até a defesa, pediu a bola ao nosso goleiro, levantou a cabeça com ímpeto e irrompeu contra o time do Malhado. Ele sorria e avançava. Eu o segui de perto, vibrando. Na minha frente desenhava-se um ziguezague: driblou um adversário, dois, três quatro... Arremeteu contra o goleiro deles, que saía do gol fechando o ângulo. Linco parou, como só ele parava, deu um toque sutil e saiu de lado. O gol estava diante dele, entregue e escancarado. Houve ali uma expectativa, o jogo já terminava. E ele me ofertou a bola: Terto, faça o seu gol!”. Eu, simples zagueiro, jamais provara aquele sabor. Então eu mesmo rolei, bem de levinho: e a bola foi sorrir no fundo da rede.

Todos corremos para ele e gritávamos gol e nos abraçávamos, era a virada de seis a cinco. O invicto Malhado enfim derrotado, diante da platéia surpresa ao redor do gramado. Contra a nossa festa, o líder deles jurou vingança, de cara amarrada:

– Na próxima vocês vão ver!

Saíam de campo sem graça, mais que inconformados. A gente degustava a justa vez de zombar:

– Oh, timinho de patos

E agora? Amanhã era a final, contra o ferido time do Malhado, cheio de brios pela revanche, com um ressentimento bairrista demais. Prometiam nos bater de seis a zero. Eis que era chegada a hora, e Linco naquele pior estado. A par de tanta tristeza, as nossas lágrimas prosperavam, renovando-se nas lembranças daquelas glórias repassadas. De nossa parte, era a vez primeira de enfrentar esse tipo de jogo, totalmente vencidos. E cada um de nós compreendia, a seu modo e tanto, o quanto gostávamos daquele menino. No entra-e-sai da sala, ninguém podia efetuar o total que sofríamos. Sem o nosso amigo, sentíamos o vazio de uma enorme parte de nós mesmos. Tínhamos muita pena de Linco não jogar aquela última partida. Ele, com tanta espera e vontade, planejara a grande vitória. Um ou outro de nós se arriscava, em meia voz, para o maior silêncio dos pares:

– E o jogo de amanhã?

Primeiro concordamos com a idéia de que não haveria o jogo. Os caras do Malhado tinham de compreender o respeito devido a Linco, o motivo de força maior. Aliás, que jogo teria graça para nós, naquelas circunstâncias? Estava, então, acertado. Passava da meia-noite, de qual a qual íamos tombando de sono. Cada um procurou seu caminho de casa.

No domingo, pela manhã, nos reuníamos em frente à casa de Linco. Vinha então a embaixada do Malhado em nossa petição, naquele uniforme grená desbotado de sempre. Cadê nosso time? Era hora do jogo. Logo explicamos o fato, eles se concentraram no silêncio, com algumas perguntas esparsas. Depois entraram para ver o nosso amigo, já composto entre flores, perfilaram-se com respeito e tristeza. Não havia ânimo para a partida, com tal desfalque em nosso coração.

Todos de volta ao terreiro, daí batíamos uma bola solidária, numa roda de pé em pé, comungávamos a dor daquela tragédia. Num momento em que a bola resvalou da roda, fugindo de controle, veio dos amigos do Malhado uma proposta:

– Vamos jogar a partida – um deles se aventurou, meio que experimentando.

– Não dá – cada um de nós respondia, em consequência perfeita.

Eles insistiam que jogássemos em homenagem a Linco. Haveria um minuto de silêncio. Eles queriam o jogo, mas não lhes víamos nenhum sinal de revanche. Era razoável, de olhar em olhar nos entendemos: a gente jogava. Mas, com uma condição: seria a partida de um só gol. Quem marcasse primeiro ganhava o torneio, com respeito, sem festa nem gozação. Este jogo de futebol não podia demorar, pois sabíamos que, logo mais, Linco seria levado para outro campo. E todos o acompanharíamos em sua última partida.

– É o nosso último jogo. Sem Linco, o nosso time acaba – alguém murmurou e todos acenaram que sim.

Vestimos o uniforme do time, em azul e branco, para o jogo final. A camisa de Linco ficou estendida no chão, próxima ao campo, invocando a sua presença. O juiz, que vinha do bairro Pontal, depositou o troféu sobre a camisa dele. E nos convocou ao meio do gramado. Depois do minuto de silêncio, que varou mais que sessenta segundos, demos a saída de bola e nos pusemos em disputa.

Era um jogo estranho, sem o mínimo ânimo de ambas as partes. O pessoal do Malhado nos dominava, mas chutava sem força, parecia que sem querer marcar o gol. Dava vontade de parar a partida, lagar aquilo de mão, ir velar os últimos momentos de Linco. Após longos minutos madorrentos,os nossos oponentes inprovisavam de novo:

– Vamos disputar pra valer, gente!

Outro de lá lançou um ajuste: o troféu ganhasse o nome de Taça Linco. E o tento da vitória seria o “Gol Linco de Ouro”. De pronto concordamos, isto trazia um novo significado, valia a homenagem de nosso esforço. Abraçados em campo, reafirmamos a senha da vitória que o próprio ausente nos ensinara. Em seu nome, nos renovávamos com a vontade de vencer.

A partida reiniciou-se com outro espírito. O Malhado mostrava-se bem melhor, correto e persistente, em busca do gol. Para nós, restava resistir e lutar por honra, pois agora sentíamos Linco entre nós, suas palavras de incentivo e ensino nos alcançavam, minando de nossa memória.

Mas o empate persistia em zero a zero, quase à hora de Linco partir. Eu me senti tocado pelo desejo de oferecer aquela taça ao amigo, antes que a luz do mundo lhe fosse apagada para sempre. Então, deixei minha posição de defesa, me postei no lugar em que ele ficava, no todo que arisco, ao largo dos lances do jogo. A bola haveria de me procurar ali, com saudades do seu preferido. E enquanto aguardava o momento, eu imaginava um lance, um jeito dos que Linco sabia.

Os companheiros pareciam entender a tática, pois embarcaram num modo manhoso de chutar a bola, sempre que conseguiam, com muito esforço, tomá-la dos craques do Malhado. Do meio de campo, eu via o terreiro da casa, o povo já ia se aglomerando para o enterro. Os outros meninos, tão entretidos, não perceberam logo. Eu, sim, pois alheava-me da disputa e fiscalizava o movimento das pessoas minuto a minuto. Era urgente encerrar o jogo, que Linco estava de partida. Baixou em mim uma agonia, era uma tristeza, deu-me um aperto no peito, as lágrimas suadas me queimavam os olhos. Gritei, dentro de mim mesmo:

– Linco, não pode ser! Levante daí, venha jogar com a gente!

Corri até a defesa, pedi a bola ao nosso goleiro. Levantei a cabeça com ímpeto e irrompi contra o time do Malhado. Eu sorria e chorava. Na minha mente desenhava-se um ziquezague: driblei um adversário, dois, três quatro... Arremeti contra o goleiro deles, que saía do gol fechando o ângulo. Parei, como só Linco parava, dei um toque sutil e saí de lado. O gol estava diante de mim, solidário e desamparado. Houve ali uma expectativa, o jogo já terminava. E eu lhe ofertei a bola: “Linco, faça o seu gol!” Então eu mesmo rolei, bem de levinho: e a bola foi chorar no fundo da rede.

Disponivel em: http://www.panoramadapalavra.com.br/conto49.html acessado em: 10/11/09

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Lançamento de O pêndulo de Euclides em Feira de Santana-BA




Não deixem de ir e avisar aos amigos de Feira de Santana para duas noites de de encantos e "causos", além de uma conversa saborosa com o escritor Aleilton Fonseca sobre seu novo romance: O pêndulo de Euclides...

Depois passem aqui para me dizer como foi...pois estou a léguas de distância de Feira de Santana...bjs

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ALEILTON FONSECA - ENTREVISTA NO LEITURAS, TV SENADO


O poeta, contista e professor universitário Aleilton Fonseca é o entrevistado do programa Leituras.
Ele apresenta no programa o romance O Pêndulo de Euclides, no qual propõe uma reflexão sobre a mudança de valores motivada pela guerra.
O autor vale-se da experiência de Euclides da Cunha, na Guerra de Canudos, onde passou a ter uma visão mais realista da vida.
A entrevista com o escritor Aleilton Fonseca foi ao ar no domingo, dia 25/10, às 8h e às 20h30.

Link da entrevista de
Aleilton Fonseca ao Leituras


http://www.youtube.com/watch?v=b5TlyqEndlg (parte 1)

http://www.youtube.com/watch?v=2EpUefpUMZI (parte 2)

http://www.youtube.com/watch?v=0upq2hVwBXw (parte final)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Dueto de realidade e ficção

setembro de 2009

Por Gerana Damulakis

A verdade verdadeira é sempre inverossímil, você sabia? Para tornar a verdade mais verossímil, precisamos necessariamente adicionar-lhe a mentira.

Stiepan Trofímovitch, em Os demônios, de Dostoiévski

Sample Image

O romance O pêndulo de Euclides (Bertrand Brasil, 2009), de Aleilton Fonseca, é, antes de tudo que há para dizer, emocionante. Três intelectuais, após a última palestra sobre a Guerra de Canudos, viajam rumo ao sertão. Um deles é o narrador principal, é aquele que segue viagem, não apenas para ver in loco o rincão da guerra, mas em busca da solução para uma cisma, que traz dentro de si.

As páginas de Aleilton Fonseca estão impregnadas de uma admiração pela matéria histórica, que exala da alma de escritor, como a aura dos iluminados — Um iluminado ali congregou toda uma população (E. da Cunha) —, e, assim, a eleição da matéria é o próprio humo, a terra vegetal fértil, do qual brotou o romance.

O título sugere que, se há um pêndulo, forçosamente haverá um movimento determinado: o movimento pendular traça uma trajetória, que parte de um extremo e alcança seu oposto. Usando a nossa intuição, presumimos que algo mudará no decorrer do romance. Como? Fazendo os leitores palmilharem, — metaforicamente, percorrendo a pé, como se no sertão estivessem —, os confins entre a realidade do sertão e a verdade ficcional com seus mitos.

Se não esquecermos que a fantasia de todo escritor é sua visão do mundo, ou seja, o motor que o desperta e o norteia, então, os emblemas que para ele oferecem os entes e os agentes, sem dúvida, são o que Aleilton cria e alça como uma voz que resgata, num plano que é sede da atenção, tanto na história, quanto na literatura.

Impressiona o vigor do empenho e do comprometimento pessoal da voz narradora — claramente, a do próprio autor —, manifestando entendimentos que não são decorrentes de investigações e análises desordenadas e estouvadas, ou mesmo, apenas ocasionais, mas, sim, de toda uma existência, somando, aos conhecimentos lembrados e anotados, minúcias que engrandecem a ficção, assimiladas pelo autor ao longo de sua vida e de sua cisma. Tal desconfiança, ou suspeita, faz a trama ser uma trama muito bem amarrada. Vale atentar o quanto ela é bem urdida.

Aleilton mostra-se como grande articulador dessa trama tão elaborada a partir de facetas lapidadas por sua visão de escritor, visão temperada com as especiarias da observação crítica e, de novo, advindas da experiência de vida, sem deixar de lado alguma dosagem poética. Essa visão conduz o panorama descritivo e analítico do que ocorreu em Belo Monte. Articulação, que entremeia aos relatos mais esclarecidos, as visões e assombrações do sertão, para traduzir a “fragilidade” do homem forte sertanejo. Aqui, uma lembrança de leitura: o empregado do velho Ozébio e seu enorme medo numa noite escura à procura de um bode perdido — por sinal, uma ótima cena!

O texto é capaz de agitar com suas cenas, incluindo o apelo, o clamor a um Euclides, que chega a Canudos com um juízo e uma presunção, observa, conjetura, e muda de conceito. Tocante a maneira como Aleilton Fonseca fez Euclides envolver-se com um canundense e voltar para a capital, saltar de um trem, que um dia levou-o ao sertão, trazendo uma mudança dentro de si — o pêndulo alcançou o outro extremo: eis a patente a ser registrada. A linguagem clara, mesclada de tons jornalísticos e ensaísticos, também sabe ser descritiva, espartana e rigorosa em relação ao teor indutivo e opinativo, como condiz ao jornalista, pois que há certo ajuste quando o narrador sonha entrevistando Euclides da Cunha, levantando questões mais importantes. Um sonho perfeito se comparado a outro momento, quando houve questões caladas, aquelas sequer articuladas ao término da palestra do início do romance.

A carga de regionalismo no contexto narrativo não afugenta leitores e, algum ou alguns registros da norma popular regional estão, no texto, por conta da ratificação que lhe dá sua condição de escritor. Repetindo, a linguagem é clara, escorreita, afeita tão somente aos regionalismos característicos, sempre como indicativos dos costumes típicos da região do sertão. Daí, o duo de realidade e ficção, o misto de jornalista e ficcionista. A notação sobre a linguagem que não se afasta das sendas da norma culta, a não ser quando termos regionais são necessários, vale uma reflexão. Sim, vale atentar para colocações como as da crítica Moema Olival, por serem muito pertinentes aqui: trata-se da utilização da linguagem autóctone. Se, no romance de Aleilton, não há “a transição da fala regional a serviço de uma proposta literária de fundamentação social, fala como índice de cultura de um povo, como fez um Bernardo Élis, mas também não é a fala regional a serviço da reconstrução literária do universo sertanejo, como em Guimarães Rosa”, a conclusão diz que Aleilton utiliza-se da fala que é sua, “de direito e de saber, sem mediá-la ou estilizá-la”, porque ela é a sua linguagem. Isto porque, e mais uma vez, “não se agita uma causa social, como na obra de Bernardo Élis, nem se busca uma filosofia do sertão, como na obra de Guimarães Rosa”.

É preciso dizer ainda sobre “Os fogos da guerra”, parte V do romance, que conta os quatro fogos, sofridos por Canudos, utilizando a voz de um canudense que, assim como seus companheiros, perdeu a vida: “Caí de bruços, ferido de morte. O resto foi silêncio. Aí tudo acabou”. Ponto alto da ficção. Na parte do romance que apresenta um “Auto do Belo Monte”, parte VII, há um julgamento no fórum: há as vozes criadas, todas dentro de suas conformações aos personagens, desde o Dr. Euclides da Cunha, ao jurista, Dr. Rui Barbosa, ao testemunho do Sr. Antônio Conselheiro, ao acusador Senhor Tempo, a República, até a Senhora Circunstância. A realidade da Guerra está exposta com o intuito de promover um desvendamento total, permitindo avaliar de modo correto o que pode se perder com a possível destruição da memória.

Já foi dito sobre um sonho, ou delírio, que foi a entrevista feita pelo narrador ao escritor Euclides da Cunha. Já foi dito sobre um Auto elaborado no corpo do romance, mas há o melhor: o segredo revelado por Ozébio, personagem mais interessante e muito importante ao longo da narrativa. O segredo? Só é revelado aos leitores do livro.

Em suma: a trama esteticamente elaborada, construída na medida em que vai cingindo vários aspectos do sertão e da guerra ocorrida, abraçando o movimento do homem que escreveu sobre o episódio, do ser que se descobriu na periodicidade diligente do pêndulo, recebe o arremate. Em tal ponto da leitura, os leitores envolvidos na cadência pendular e perante a emoção trazida pela revelação, sentem a vibração do pêndulo, ou melhor, do livro. O romance segue crescendo até a frase final; de saída, não poderia ser outra: “O sertão vai virar cidade e a cidade vai virar sertão”.

É realmente uma obra a ser devidamente considerada: é preciso reputar, apreciar e prezar O pêndulo de Euclides. A exclamação ao fechar o livro é: memorável!


Disponível em: http://www.verbo21.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=544&Itemid=174 acessado em 13/10/09

O pêndulo de Euclides

O pêndulo de Euclides




de Aleilton Fonseca


Páginas: 210

O pêndulo dos sertões


"Se eu estivesse no seminário referido pelo narrador logo na abertura deste livro, teria concordado com o último palestrante. Depois de Euclides da Cunha, Mário Vargas Llosa, Walnice Nogueira Galvão, Edmundo Moniz, Ataliba Nogueira, José Calazans, Roberto Ventura, autores, livros, ensaios e artigos da imprensa, Canudos era um tema exaurido.

Mas Aleilton Fonseca traz uma indagação instigante, colocada na mente inquieta do professor-narrador deste O pêndulo de Euclides. Para discordar de que o conhecimento e a literatura sobre a Guerra de Canudos e seus personagens estejam completos e concluídos, ele se pergunta: “E as vozes do sertão? O que elas têm a dizer?”

Três homens que mal se conhecem, unidos no interesse intelectual e sentimental pela tragédia canudense e na admiração incontida por Euclides da Cunha, partem descontraídos e curiosos para uma curta viagem ao sertão do rio Vaza-Barris, em busca de aventura, divertimento e aprendizado. Um deles encontra a si mesmo.

Creio que Aleilton Fonseca também se encontrou como escritor — com as anotações descritivas, que revelam sua arguta percepção do universo sertanejo; com seus diálogos ensaísticos, que atestam a segurança dissertativa de conceitos e argumentos; e com uma narrativa engenhosa, que encontra vazão no prumo da arte ficcional.

Acima de tudo, Aleilton Fonseca acerta em cheio. Na dicção literária, pelo domínio da linguagem: ritmo, expressão e composição; do erudito ao popular; do reflexivo ao emotivo; do discursivo ao lírico. E no campo retórico, pela clareza de ideias, pela congruência entre valores e conteúdos, pela pertinência dos sentidos e motivações.

Este livro vem preencher uma lacuna. A Guerra de Canudos continua. A luta do sertão ainda sangra. O sertanejo ainda é um forte. Nada está encerrado e pacificado. A escritura da guerra não está completa. Não sem antes ouvirmos o que tem a dizer Aleilton Fonseca. Não sem pararmos para escutar a voz que vem dos sertões."

-Luís Antonio Cajazeira Ramos, poeta-


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Na celebração do centenário de morte de Euclides da Cunha, Aleilton Fonseca homenageia o grande autor de Os sertões. Com a região nordestina da Guerra de Canudos como cenário, O pêndulo de Euclides apresenta um debate inteligente e instigante sobre um dos mais sangrentos conflitos brasileiros. Tudo retratado, de maneira leve e encadeada, pela visão de um professor baiano, um viajante francês e um poeta.

Mas o que há em comum entre esses personagens? Aparentemente nada. Entretanto, a cada página do romance, a relação entre eles fica mais nítida para o leitor: há todo um clima de encanto e curiosidade pela Guerra de Canudos e tudo que a cerca.

No ano de 2003, um professor baiano apaixonado pelo livro Os sertões, de Euclides da Cunha, decide conhecer a famosa região de Canudos (Belo Monte, segundo os conselheiristas) a fim de escrever seu próprio livro. Em sua jornada, ele terá a companhia do francês Dominique e do poeta Alex. Juntos, 106 anos após a quarta batalha entre sertanejos e soldados republicanos, e o extermínio dos seguidores de Antonio Conselheiro, eles partem para uma viagem no tempo.

Ao chegar à cidade atual de Canudos, o primeiro sentimento é de espanto cultural. O comércio é informal, as pessoas são extremamente simples e amistosas, e tudo gira em torno do mito de Antonio Conselheiro. Com o passar dos dias, o doutor começa a encantar-se com as informações que recebe dos sertanejos, principalmente as conseguidas nos bate-papos com seu Ozébio, de 80 anos, um conhecedor misterioso e profundo de todos os detalhes do conflito.

Com uma narrativa surpreendente, ao reproduzir passagens de Os sertões em seus diálogos, O pêndulo de Euclides provoca uma reflexão sobre o que realmente aconteceu no sertão nordestino no fim do século 19. Uma aula sobre as pessoas que lutaram e o cotidiano de suas vidas sob a tutela de Antônio Conselheiro.

O pêndulo de Euclides será lançado também no Seminário Internacional 100 anos sem Euclides, em Cantagalo, no dia 27 de setembro, às 9h30min, no auditório principal do Hotel Pesqueiro da Aldeia. O evento é aberto ao público.

Disponível em: http://www.projetoeuclides.iltc.br/index.php?page=conteudo&conteudo=impre_noticias&id=139 acessado em 13/10/09


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O Pêndulo de Euclides

No centenário de sua morte, Euclides da Cunha ganha os olhares atentos de muitos. Na Bahia, o professor e escritor Aleilton Fonseca lançará o romance O Pêndulo de Euclides, editado pela Bertrand, do Rio de Janeiro. O romance centra-se sobre a Guerra de Canudos e o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. O livro será lançado na Academia de Letras da Bahia neste mês de setembro.

Dois fragmentos de O Pêndulo de Euclides

Do romance, destaco dois trechos em protagonistas discutem o valor dos cordéis encontrados dentre os espólios da guerra pelos soldados:

1 - “O mais pobre dos saques que registra a história”

“ – Euclides afirma que após a guerra os soldados fizeram uma devassa nas casas em ruínas, curiosos, em busca dos despojos. Fizeram o que ele chamou de “o mais pobre dos saques que registra a história”. Encontraram imagens mutiladas, rosários de cocos e os “desgraçados versos”. São mesmo “pobres versos muito malfeitos”, que nem de longe representam a qualidade poética de cordel do sertão.”

2 – “A luta necessária ...” e o “erro histórico”

A propósito de uma visão negativa de Euclides da Cunha do ideário sertanejo, como as idéias contrárias à República, “resultantes do atraso cultural, da ignorância da população sertaneja”, o protagonista Alex dá uma nova interpretação:

“- Paradoxalmente, a visão negativa de Euclides sobre os sertanejos joga a favor de Canudos. Eles não tinham formação e informação para entender as ideias republicanas. Portanto, não eram inimigos da República, mas sim seus credores em termos de ensino e assistência. Por isso, Euclides conclui que os sertanejos requeriam outra reação do governo. Ou seja, a luta necessária não seria aquela da forma militar e dos canhões, mas sim através da educação, das letras, das luzes, do progresso e da cidadania. A partir disso, Euclides interpreta a intervenção militar como um erro histórico, como um crime da nacionalidade contra patrícios, de que seu livro se torna uma grande e ruidosa denúncia.”

“A luta necessária ...” e outros “erros históricos” ?

A narrativa bíblica começa com um Paraíso, um Jardim do Édem, e termina numa mega tragédia, num Apocalipse. Há quem diga que a imagem do paraíso terrestre e seu Jardim do Édem se situaria na babilônia. Concretamente, lá é que foram construídos os Jardins Suspensos da Babilônia, uma das maravilhas do Mundo Antigo. E em toda intervenção militar, ainda para ficarmos na Babilônia de hoje, para muitos o apocalipse é real.

Curiosamente, essa passagem sobre Canudos insiste em trazer à lembrança à Guerra do Iraque, apenas para fazer referência, não ao apocalipse de muitos milhares de iraquianos e suas famílias, mas para fazer referência ao Jardim do Édem que poderia ser aquela rica região, berço das mais antigas civilizações humanas. No caso do Iraque, é possível pensar que a intervenção militar também foi um erro histórico e que a intervenção poderia ser de outra natureza?


Escrito por Agenor Gasparetto


Disponível em: http://agenorgasparetto.zip.net/arch2009-08-30_2009-09-05.html acessado em 13/10/09

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O sabor das nuvens - Aleilton Fonseca


Era aquele cheiro cálido de biscoitos no formo. Invadir o portão era sempre o sonho, a vontade de ver como se faziam biscoitos, quantas mãos os amassavam, enfornavam, acomodavam nas embalagens coloridas. Mas não podia, que lá sempre havia o homem a vigiar, sozinho, quieto na guarita. Ele se ocupava em ouvir um rádio de pilha, enquanto os nossos olhos escalavam o ar para colher a fumacinha, um sorriso sorrateiro da chaminé multiplicando-se em nuvens baixas. Elas levavam aos arredores de nossas casas as cores silenciosas daquele gosto morninho. Dava-nos vontade de saborear a fábrica inteira.

Era uma enorme casa. O ruído dos geradores era o aviso, o coração da fábrica pulsava: distraía-nos como um motor de nave em vôo, zumbindo nos ouvidos curiosos. Mas, o portão! Sempre fechado aos estranhos – estranho, eu?! –, a guarita e seu morador solitário, escutando aquelas notícias. Seu mundo saía do rádio e ali mesmo se esvaía. E as letras vermelhas, iradas, gritavam: ENTRADA PROIBIDA
Agora, não: eu ia vencendo portão adentro, de repente escancarado; nem portão que era, mas a entrada que me chamava sem impor condições:
– Ei, o senhor está procurando alguma coisa? - um menino me atalhou.
– Biscoitos! – respondi, sem deixar escapar-me o fio de meu próprio tempo.
– No meio do mato? - ele insistiu.
– Não, no meio da fábrica.
– ?!
– Huummm. Esse cheiro! - murmurei, sentindo-me orvalhar nos lábios.
– Cheiro de mato e insetos - ele pontuou-se no real.
– Não, biscoitos quentinhos.
– ?!
– Veja a fumaça da chaminé.
O menino olhou para as nuvens, que se iam altas e ensolaradas, me encarou e, distanciando-se um pouco, me observava de um certo soslaio, bem que desconfiava de mim. Eu estava um doido? Ambos fizemos pausas, entrecortadas de olhares esconsos. E, nesse diálogo, já de somente olhar, nos tangenciávamos, nos recortes do tempo. Cada qual seus quais, com suas estampas, em que a vida pode ser revisitada.
Era um menino e sua bicicleta, nas rodas de seu presente. Eu, então... Ele encostou o brinquedo numa estaca sobrevivente, entrou na fábrica saltando por sobre um resto de parede. E me disse que seu avô trabalhara ali antigamente. Ao se aproximar, ele afastou as ramagens tenras, por entre as touceiras de mato. Colheu um melão-de-são-caetano e o apertou entre os dedos, as partes se abrindo em estrela, expondo as carnes vivas e sementes do fruto silvestre. Era bonito, desde menino eu achava: pena que não se prestava a melhor degustação, só servia para alimentar o sonho. Aquele fruto viera do passado, entrando portão adentro para tomar conta de tudo. Eram as ramagens da mão do tempo.
– Olhe isso!
O menino tocou o pé na parede e me disse que estava tudo podre. O telhado viera abaixo, os cupins devoraram as madeiras. Eu ouvia o relato, mas não acompanhava seus olhos. Ouvia mesmo era a engrenagem trabalhando. As máquinas que nunca vi, apenas as imaginara, pelo som do trabalho que os cobogós me avisavam. Dois tijolos saltaram, quebrando-se sobre o capim rasteiro que assoalhava o lugar. Eram dois tijolos que se esmigalhavam, mas eu os revia intactos, na parede firme, na cor do óxido de terra, sempre novos.
O menino montou de um salto, saiu cavalgando a bicicleta, ia-se equilibrado. Segui atrás, sem saber ao certo por que o acompanhava. Lá adiante, vi quando ele entrou num terreiro, a casa simples mais ao fundo. Continuei caminhando, até me acercar da grade baixa do portão. Na frente da casa compunham-se pequenos canteiros de flores, acenavam-me ali nessa busca as rosas e seus espinhos. Havia uma aroeira jovem, sob a qual um banco de madeira convidava à sombra:
– Ô de casa! – me arrisquei a novo rumo.
Um homem de boa idade assomou à porta, logo me averiguava as feições, certamente para ver se me conhecia de outro tempo ou lugar. Ele veio ao meu encontro. Senti o seu esforço a esmo: não, ele não me conhecia. Eu desatei a cena:
– Boa-tarde. O senhor é seu...?
– Ivo, eu mesmo. Boa tarde. É alguma coisa? – ele respondeu e perguntou, reticente.
– Nada. Ia passando, seu neto me disse que o senhor trabalhou na antiga fábrica, então...
– Ah, sim, trabalhei, né? Mas isso faz muitos anos, pra lá de uns trinta! – ele informou, enquanto apontava o banco de madeira, num convite.
– É, faz tempo! - comentei, enquanto nos sentávamos à sombra.
– O senhor veja: o tempo passa, leva tudo. Leva a gente também - ele filosofou, buscando apoio nas nuvens.
– O senhor se importaria de me falar um pouco daquele tempo, da fábrica, como era antigamente?
A primeira frase de sua resposta foi um gesto silencioso, de quase em quase, desde seus olhos para os meus. Depois seu olhar fugiu para os galhos da aroeira que nos assistia. Esse seu Ivo, avô do menino, estava já encabulado. Eu lhe trazia aquele assunto morto, num repente voltando à luz da tarde. Ele estava surpreso. Depois de se cultivar absorto, num quase sorriso, ele murmurou, com jeito de certa tristeza:
– Ah, não sei lhe contar, não. Não sei de lá, nada.
– Mas, e o serviço, lá dentro? – eu quis insistir.
– Lá dentro, não lembro.
– Mas se o senhor trabalhou lá?!
– Mas eu só trabalhava fora.
– Ah – murmurei, desapontado.
– Quem é o senhor? – ele reverteu a entrevista, mas já eu desanimara.
Fiquei de pé, olhei a aroeira tranqüila, ele também se levantou. O menino vinha de volta, os olhos acesos em nossa direção.
– Contou a ele, vô? – disse, com o ar orgulhoso.
– O quê?
– Que o senhor era vigia da fábrica?
Para mim, esta revelação do menino, diante da fala vazia do seu avô. Meio a contragosto, o velho esfregou as mãos, com os dedos entrelaçados, e confirmou:
– Eu era só mesmo vigia.
Os três ficamos calados. Eu reconhecia naquele homem a função que nos impedia de alimentar a curiosidade, de nos arriscar à prova de alguns biscoitos. Ele ficava de guarda na guarita para que os meninos vadios não entrassem. No seu sem jeito, ele confessava isso, meio que pesaroso, até mesmo descontente. Restava-nos aquele silêncio em branco.
Então eu cumprimentei o velho com um gesto e disse “até logo”. Aquilo era mesmo um adeus. Ele, cabisbaixo, nem respondeu. Segui pelo caminho de barro, sem ânimo sequer de olhar para trás. De repente, ouvi que o menino me seguia, em meu rumo direto de volta à fábrica. Meus olhos ainda iam cheios das imagens que aquele avô não pudera me contar. Toda a fábrica para ele resumia-se à mínima guarita, o tamanho exato de sua história. Eu me senti pleno, tinha a fábrica inteira dentro de meus olhos. E agora ia seguindo, o menino guiando, sem palavras quais que fossem.
– Essa fábrica foi importante aqui, o senhor sabe? – ele se esforçava para preencher a página que o seu avô rasgara sem querer.
Eu fui seguindo pelo acostamento da pista recém-asfaltada, enquanto o menino me acompanhava, pedalando devagar. Aproximei-me do velho prédio e agora eu via de fato as ramagens que invadiam os restos das paredes, entrando e saindo pelos cobogós sobreviventes.
De novo, entrei pelo vão aberto das ruínas da guarita onde ficava o vigia: era a boca do tempo que tudo engolira. E percorri aquele mapa da fábrica, um debucho antigo perdido nas memórias envelhecidas de uns e sepultadas de outros. Eu rabiscava as imagens, preenchendo-me de todos os talvezes. Riscava por onde fosse que ficava cada máquina, onde era o forno, onde se empacotava, tudo agora um ex-existir das coisas e dos gestos. Os operários de novo a postos, suas vozes e passos abafados pela vibração das máquinas. Quantas vezes eu sonhara ser um deles! Dentro de mim a massa ia engrossando, os biscoitos tomando forma e daí ao forno, saindo de lá quentinhos para os pacotes e para as latas.
Eu não podia me perder daquele cheiro. Eu precisava me repor no saber experiente que a vida desbota e destrata, nas rimas certas do texto, a súmula do sim e do nada, as respostas que a gente colhe como frutos de safra no pomar. Estou aqui, mas cheguei tarde, contudo em data aprazada: em vez de massa, preparo um outro tipo de fermento.
O relógio sumiu de minha rota, eu me vi num ponto suspenso, as reticências entre duas vírgulas absortas, antes de assinar aquela sentença. Eu tinha de reconhecer: três gerações, o avô, eu e o menino vivíamos cada um sua própria alegoria, cada qual a mais plausível e incerta. Em cada um de nós havia uma fábrica diferente brotando de dentro do mato, que invadia os nossos olhos e os nossos dias. Dos três sobreviventes do sonho, apenas eu tinha pena e papel; e sabia sentir as cores, o gosto e o sabor das nuvens.
Tudo sobrevive nos sulcos que as letras escavam sobre o mudo pergaminho. Debaixo dos riscos, sobrevivem as demais escritas.
Eis a fábrica. Entrei de novo, sem licença. Eu andava a esmo, pelo meio do salão de trabalho, tropeçando nos matos rasteiros. Eu só queria repor as peças em seus lugares, ligar as máquinas, aquecer o forno e despertar a chaminé. O menino de novo me observava, talvez curioso ante minha empreitada. Eu perscrutava-lhe uma pergunta que ele não alcançou formular. Eu, também funcionário, em certo depois, minha função era a última de todas. Enfim, eu agora a exercia. Ouvi que a fábrica apitava e me senti arrepiar inteiro. Estava findo esse turno de trabalho. Então eu fui saindo.
– Esta fábrica está morta.
O menino disse isto e retomou sua bicicleta. Deu uma última olhada, foi-se a guiar para longe, fazendo girar o tempo presente. Era já o cair da tarde; e dentro de mim o apito da fábrica chorava. Eu via de novo a fumaça formando nuvens e provava o cheiro morno dos biscoitos. Continuei caminhando, sem olhar para trás, os matos já não me incomodavam. Era hora, e eu ia saindo pelo mesmo portão aberto, por onde as minhas lágrimas passavam.

(Do livro O Desterro dos Mortos (Relume Dumará), 2001)


Disponivel em: http://contosbrasileiros.blogspot.com/ acessado em 06/10/09

sábado, 26 de setembro de 2009

Um novo Sertão na Literatura

Por Rinaldo de Fernandes


A figura quase lendária de Nhô Guimarães [em Nhô Guimarães: romance-homenagem a Guimarães Rosa, do escritor baiano Aleilton Fonseca], permanentemente associada à imagem do marido Manu ("sabiam ser bons amigos"), de quem a narradora sente muita saudade, é sempre recordada com reverência, como se presente estivesse: "Eu vi, vivi, convivi. Para mim está muito bem vivo".
O personagem Nhô Guimarães, repita-se, é alter ego de Guimarães Rosa, sendo que alguns dados da biografia deste último são sempre postos em cena pela narradora (Aleilton Fonseca, na entrevista, citada três colunas atrás, a Lima Trindade, afirma: "Procurei inserir os dados históricos no ficcional, como se também fossem - e agora são! - uma ficção"; afirma ainda: "A realidade é apenas um marco de referência que garante a verossimilhança"). Dois desses dados, pela sua importância, chamam muito a atenção: o primeiro é aquele que alude à famosa viagem pelo sertão, em 1952, na qual Guimarães Rosa, acompanhado do vaqueiro Manuel Narde, o Manuelzão, anotou muito sobre a fauna, a flora, a fala e as fabulações sertanejas, material que será aproveitado na composição do Grande sertão: veredas. A viagem é assim referida no romance: "Ele fez uma travessia longa, de muita importância para seus escritos. Se aventurou nas poeiras, passagens das mais supimpas, com os demais. [...] No terreiro todo aí fora se arrancharam para o descanso e o de-comer, os animais espalhados convivendo amigos. [...] Nhô Guimarães por tudo a saber e anotar, no sempre, os seus riscos e debuxos no papel. Os aconteceres do mais sertão, lhe dissessem de tudo. [...] Nhô Manuelzão era quem mais sabia ensinar, sempre bom de prosa e de aventura. Os demais, estes cismavam: onde já se viu boiadeiro assim fanfando, todo lorde, bem do seu, de finos óculos? Essa viagem era para retratos e anotações [...], para estampar a travessia em papel, para outra gente saber de tudo e conhecer as aventuras de Nhô Guimarães pelos Gerais."

Disponível em :http://www.auniao.pb.gov.br/v2/index.php?option=com_content&task=view&id=9132&Itemid=74 Acessado em: 29/07/09

Não percam!!!

Ultimos dias de apresentação da peça Nhô Guimarães! Apenas hoje dia 26 e amanhã 27 de setembro em salvador do Teatro SESI Rio Vermelho

O pêndulo de Euclides: outras notícias

>O texto abaixo foi retirado do Diário de Taubaté online

21/08/2009

Uma viagem ao centro da Terra de Canudos

Na celebração do centenário de morte de Euclides da Cunha, Aleilton Fonseca homenageia o grande autor de Os sertões. Com a região nordestina da Guerra de Canudos como cenário, O pêndulo de Euclides, novo romance do escritor baiano, será lançado dia 24, segunda-feira, pela Editora Bertrand Brasil. A obra apresenta um debate inteligente e instigante sobre um dos mais sangrentos conflitos brasileiros. Tudo retratado, de maneira leve e encadeada, pela visão de um professor baiano, um professor francês e um poeta.

Mas o que há em comum entre esses personagens? Aparentemente nada. Mas, a cada página do romance, a relação entre eles fica mais nítida para o leitor: há todo um clima de encanto e curiosidade pela Guerra de Canudos e tudo que a cerca.

No ano de 2003, um professor baiano apaixonado pelo livro Os sertões, de Euclides da Cunha, decide conhecer a famosa região de Monte Castelo a fim de escrever seu próprio livro. Em sua jornada, ele terá a companhia do francês Dominique e do poeta Alex. Juntos, 106 anos após a quarta batalha entre sertanejos e soldados republicanos, e o extermínio dos seguidores de Antonio Conselheiro, eles partem para uma viagem no tempo.

Ao chegar a Monte Castelo, o primeiro sentimento é de espanto cultural. O comércio é informal, as pessoas são extremamente simples e amistosas, e tudo gira em torno do mito de Antonio Conselheiro.

Com uma narrativa surpreendente, ao reproduzir passagens de Os sertões em seus diálogos, O pêndulo de Euclides provoca uma reflexão sobre o que realmente aconteceu no sertão nordestino no fim do século 19. Uma aula sobre as pessoas que lutaram e o cotidiano de suas vidas sob a tutela de Conselheiro.

Aleilton Fonseca nasceu na cidade de Firmino Alves, Bahia, em 1959, e reside em Salvador. É graduado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, com mestrado pela Universidade Federal da Paraíba e doutorado pela Universidade Estadual de São Paulo. Foi professor na Université d’Artois, na França, em 2003. Leciona Literatura na graduação e na pós-graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana, com pesquisa sobre literatura e imagens urbanas. Escreve ficção, poesia e ensaio, tendo 12 livros publicados, dentre eles, Nhô Guimarães (Bertrand Brasil, 2006).

Título: O pêndulo de Euclides

Autor: Aleilton Fonseca

Editora Bertrand Brasil

Número de Páginas: 210

Preço: R$ 34,00

Disponível em: http://www.diariotaubate.com.br/display.php?id=14606




Na capital baiana, a programação em homenagem a Euclides da Cunha será marcada ainda pelo lançamento de dois livros: O pêndulo de Euclides (Bertrand Brasil), romance de Aleilton Fonseca, e o ensaio bibliográfico Euclides da Cunha e a Bahia (Ponto e Vírgula), de Oleone Coelho Fontes.


O romance de Aleilton, que é professor do departamento de Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana, fixa sua narrativa no universo da Guerra de Canudos e da obra-prima de Euclides da Cunha, Os sertões. O lançamento em Salvador será durante um seminário sobre a obra euclidiana, na Academia de Letras da Bahia, dias 30 e 31 de outubro, mas antes o livro será lançado em dois eventos, em São Paulo (no fim deste mês) e no rio de Janeiro (início de setembro).

Disponível em: http://atarde.com.br/cultura/noticia.jsf%3Bjsessionid=500C6FC965EECE3E0C8329C68C4FE32E.jbossdube1?id=1208937



outras notícias :


http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/artigos/cem-anos-da-morte-de-euclides-da-cunha/

http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf%3Bjsessionid=1E87BAF825458F3DE983FDDB7CB5DA56.jbossdube1?id=1208937