terça-feira, 13 de outubro de 2009

O pêndulo de Euclides

O pêndulo de Euclides




de Aleilton Fonseca


Páginas: 210

O pêndulo dos sertões


"Se eu estivesse no seminário referido pelo narrador logo na abertura deste livro, teria concordado com o último palestrante. Depois de Euclides da Cunha, Mário Vargas Llosa, Walnice Nogueira Galvão, Edmundo Moniz, Ataliba Nogueira, José Calazans, Roberto Ventura, autores, livros, ensaios e artigos da imprensa, Canudos era um tema exaurido.

Mas Aleilton Fonseca traz uma indagação instigante, colocada na mente inquieta do professor-narrador deste O pêndulo de Euclides. Para discordar de que o conhecimento e a literatura sobre a Guerra de Canudos e seus personagens estejam completos e concluídos, ele se pergunta: “E as vozes do sertão? O que elas têm a dizer?”

Três homens que mal se conhecem, unidos no interesse intelectual e sentimental pela tragédia canudense e na admiração incontida por Euclides da Cunha, partem descontraídos e curiosos para uma curta viagem ao sertão do rio Vaza-Barris, em busca de aventura, divertimento e aprendizado. Um deles encontra a si mesmo.

Creio que Aleilton Fonseca também se encontrou como escritor — com as anotações descritivas, que revelam sua arguta percepção do universo sertanejo; com seus diálogos ensaísticos, que atestam a segurança dissertativa de conceitos e argumentos; e com uma narrativa engenhosa, que encontra vazão no prumo da arte ficcional.

Acima de tudo, Aleilton Fonseca acerta em cheio. Na dicção literária, pelo domínio da linguagem: ritmo, expressão e composição; do erudito ao popular; do reflexivo ao emotivo; do discursivo ao lírico. E no campo retórico, pela clareza de ideias, pela congruência entre valores e conteúdos, pela pertinência dos sentidos e motivações.

Este livro vem preencher uma lacuna. A Guerra de Canudos continua. A luta do sertão ainda sangra. O sertanejo ainda é um forte. Nada está encerrado e pacificado. A escritura da guerra não está completa. Não sem antes ouvirmos o que tem a dizer Aleilton Fonseca. Não sem pararmos para escutar a voz que vem dos sertões."

-Luís Antonio Cajazeira Ramos, poeta-


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Na celebração do centenário de morte de Euclides da Cunha, Aleilton Fonseca homenageia o grande autor de Os sertões. Com a região nordestina da Guerra de Canudos como cenário, O pêndulo de Euclides apresenta um debate inteligente e instigante sobre um dos mais sangrentos conflitos brasileiros. Tudo retratado, de maneira leve e encadeada, pela visão de um professor baiano, um viajante francês e um poeta.

Mas o que há em comum entre esses personagens? Aparentemente nada. Entretanto, a cada página do romance, a relação entre eles fica mais nítida para o leitor: há todo um clima de encanto e curiosidade pela Guerra de Canudos e tudo que a cerca.

No ano de 2003, um professor baiano apaixonado pelo livro Os sertões, de Euclides da Cunha, decide conhecer a famosa região de Canudos (Belo Monte, segundo os conselheiristas) a fim de escrever seu próprio livro. Em sua jornada, ele terá a companhia do francês Dominique e do poeta Alex. Juntos, 106 anos após a quarta batalha entre sertanejos e soldados republicanos, e o extermínio dos seguidores de Antonio Conselheiro, eles partem para uma viagem no tempo.

Ao chegar à cidade atual de Canudos, o primeiro sentimento é de espanto cultural. O comércio é informal, as pessoas são extremamente simples e amistosas, e tudo gira em torno do mito de Antonio Conselheiro. Com o passar dos dias, o doutor começa a encantar-se com as informações que recebe dos sertanejos, principalmente as conseguidas nos bate-papos com seu Ozébio, de 80 anos, um conhecedor misterioso e profundo de todos os detalhes do conflito.

Com uma narrativa surpreendente, ao reproduzir passagens de Os sertões em seus diálogos, O pêndulo de Euclides provoca uma reflexão sobre o que realmente aconteceu no sertão nordestino no fim do século 19. Uma aula sobre as pessoas que lutaram e o cotidiano de suas vidas sob a tutela de Antônio Conselheiro.

O pêndulo de Euclides será lançado também no Seminário Internacional 100 anos sem Euclides, em Cantagalo, no dia 27 de setembro, às 9h30min, no auditório principal do Hotel Pesqueiro da Aldeia. O evento é aberto ao público.

Disponível em: http://www.projetoeuclides.iltc.br/index.php?page=conteudo&conteudo=impre_noticias&id=139 acessado em 13/10/09


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O Pêndulo de Euclides

No centenário de sua morte, Euclides da Cunha ganha os olhares atentos de muitos. Na Bahia, o professor e escritor Aleilton Fonseca lançará o romance O Pêndulo de Euclides, editado pela Bertrand, do Rio de Janeiro. O romance centra-se sobre a Guerra de Canudos e o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. O livro será lançado na Academia de Letras da Bahia neste mês de setembro.

Dois fragmentos de O Pêndulo de Euclides

Do romance, destaco dois trechos em protagonistas discutem o valor dos cordéis encontrados dentre os espólios da guerra pelos soldados:

1 - “O mais pobre dos saques que registra a história”

“ – Euclides afirma que após a guerra os soldados fizeram uma devassa nas casas em ruínas, curiosos, em busca dos despojos. Fizeram o que ele chamou de “o mais pobre dos saques que registra a história”. Encontraram imagens mutiladas, rosários de cocos e os “desgraçados versos”. São mesmo “pobres versos muito malfeitos”, que nem de longe representam a qualidade poética de cordel do sertão.”

2 – “A luta necessária ...” e o “erro histórico”

A propósito de uma visão negativa de Euclides da Cunha do ideário sertanejo, como as idéias contrárias à República, “resultantes do atraso cultural, da ignorância da população sertaneja”, o protagonista Alex dá uma nova interpretação:

“- Paradoxalmente, a visão negativa de Euclides sobre os sertanejos joga a favor de Canudos. Eles não tinham formação e informação para entender as ideias republicanas. Portanto, não eram inimigos da República, mas sim seus credores em termos de ensino e assistência. Por isso, Euclides conclui que os sertanejos requeriam outra reação do governo. Ou seja, a luta necessária não seria aquela da forma militar e dos canhões, mas sim através da educação, das letras, das luzes, do progresso e da cidadania. A partir disso, Euclides interpreta a intervenção militar como um erro histórico, como um crime da nacionalidade contra patrícios, de que seu livro se torna uma grande e ruidosa denúncia.”

“A luta necessária ...” e outros “erros históricos” ?

A narrativa bíblica começa com um Paraíso, um Jardim do Édem, e termina numa mega tragédia, num Apocalipse. Há quem diga que a imagem do paraíso terrestre e seu Jardim do Édem se situaria na babilônia. Concretamente, lá é que foram construídos os Jardins Suspensos da Babilônia, uma das maravilhas do Mundo Antigo. E em toda intervenção militar, ainda para ficarmos na Babilônia de hoje, para muitos o apocalipse é real.

Curiosamente, essa passagem sobre Canudos insiste em trazer à lembrança à Guerra do Iraque, apenas para fazer referência, não ao apocalipse de muitos milhares de iraquianos e suas famílias, mas para fazer referência ao Jardim do Édem que poderia ser aquela rica região, berço das mais antigas civilizações humanas. No caso do Iraque, é possível pensar que a intervenção militar também foi um erro histórico e que a intervenção poderia ser de outra natureza?


Escrito por Agenor Gasparetto


Disponível em: http://agenorgasparetto.zip.net/arch2009-08-30_2009-09-05.html acessado em 13/10/09

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