Saiu na revista MUITO, do jornal A Tarde, do domingo dia 08/11/09, no "Entre Aspas" uma entrevista com Aleilton Fonseca, a qual segue um trecho.
Por: Kátia Borges
Leia trechos inéditos da entrevista com o escritor Aleilton Fonseca, autor de Nhô Guimarães e O Pêndulo de Euclides.
Embora professor, mestre e doutor, você parece manter-se longe do “encastelamento”, da “torre de marfim”. Que análise faz da cena literária baiana, com o qual interage e que conhece bem?
A torre de marfim é uma prisão. A ação literária precisa ter uma dinâmica coletiva, pois a literatura é um acervo de saberes para ser compartilhado. A cena literária baiana é muito produtiva. Mas falta ainda na Bahia uma política eficiente de formação de leitor e de distribuição do livro, de modo a elevar os índices de leitura e de formação de acervos. Os autores baianos encontram muita dificuldade para obter reconhecimento em sua própria terra. O reconhecimento tem de vir primeiro do centro-sul, o que os obriga a lutar por editoras do Rio e de São Paulo para existirem nas livrarias. Isso é uma luta árdua e nem sempre chega para todos, nem é suficiente para projetar seus nomes. O trabalho do escritor é árduo e os resultados não são garantidos. Creio que deveríamos nos unir, em busca de uma solução coletiva. Afinal, o brilho do céu não se faz com uma ou duas estrelas, mas com a luz das diversas constelações.
Eu o conheci primeiro pelos contos e pela poesia. Qual o espaço que ocupam hoje em sua vida?
A poesia e a ficção são importantes no meu dia a dia de escritor, professor e pesquisador de literatura. Publiquei livros de poesia, ensaios, contos e romances. Participo de várias antologias nacionais e algumas internacionais de contos e de poesia. É claro que a ficção me trouxe um reconhecimento maior e me firmou como escritor, tornando-se a vertente mais forte de minha produção literária. Mas uma coisa é certa: prefiro ser romancista.
Você se considera um autor sertanejo, em contrapartida a ter a literatura urbana como objeto de pesquisa?
Sou um escritor, no sentido substantivo do termo. Na poesia e na prosa, escrevo sobre cidade e sertão, com forte inclinação para os temas interioranos, mas em consonância com as questões urbanas. Estou em trânsito, numa viagem que a cultura faz cotidianamente, entre universos em diálogo constante, tenso, rico e indispensável. O que interessa são as questões, os valores e as soluções que precisam ser discutidos, compartilhados e resolvidos. O campo tem muito a ensinar à cidade e vice-versa.
Como se sente ao chegar aos 50 anos de idade e 30 de vida literária?
Sinto-me muito bem, pessoal e profissionalmente. Tenho 12 livros publicados, além de participar de vários outros. Já surgiram vários artigos, ensaios e resenhas sobre meus livros. O Instituto de Letras da UFBA fez um seminário comemorativo de meus 50 anos, através do projeto O escritor e seus múltiplos. O evento foi organizado pela Profª Antonia Herrera e pela bolsista Lisiane de Oliveira Souza, em reconhecimento ao meu trabalho. Como escritor, sinto-me reconhecido e gratificado.
Quais projetos mobilizam agora a sua atenção?
De agosto até novembro, estou cumprindo uma agenda de 16 viagens, para participar de eventos literários, fazendo palestras, dando minicursos e lançando o romance O pêndulo de Euclides. Ao final, terei ido a 6 estados, a várias cidades. Ao lado disso, dou minhas aulas de literatura na UEFS e participo das atividades da ALB. Tenho alguns projetos de livros em andamento, em crônica, conto, romance, poesia e ensaio. Eu trabalho com literatura todo dia, o dia todo. Assim, sinto-me útil e me realizo como pessoa. No mais, é tocar a vida, tendo a literatura como alimento, realidade e sonho.
Disponível em: http://revistamuito.atarde.com.br/?p=3532. em 14/11/09
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