Resenha
Uma prosa lírica com cheiro e sabor de sertão é a definição certa para o romance O Pêndulo de Euclides do ficcionista, poeta, ensaísta e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS – Aleilton Fonseca, que já publicou poesia e os livros de contos Jaú dos bois e outros contos, O desterro dos mortos e O canto de Alvorada. Além de se destacar como ensaísta, com publicações em revistas, jornais e diversas coletâneas.
A nova obra do escritor, que homenageia o centenário de morte do escritor Euclides da Cunha, segue o caminho de seu antecessor Nhô Guimarães: romance-homenagem a Guimarães Rosa e se mostra como um texto de leveza singular e de intensa relação com o espaço sertanejo.
A narrativa inicia quando o narrador principal da história, um professor, intrigado com uma palestra que ouvira a respeito de Canudos, se questiona: será que Canudos é um tema esgotado? Para tirar a prova dessa questão ele parte em viagem para a cidade de Canudos acompanhado de dois amigos o poeta Alex e o francês Dominique, professor de língua portuguesa nos arredores de Paris e “admirador da nossa cultura” (p. 17). Para contar a aventura dos três amigos, apaixonados pela história de Belo Monte, o livro é dividido em oito partes com diversos capítulos que tecem um caloroso debate sobre o texto e as posições tomadas pelo escritor Euclides da Cunha a respeito da Guerra de Canudos em seu livro Os Sertões.
A viagem pelas veredas do sertão euclidiano é encadeada por uma prosa lírica que une argumentações concisas e bem elaboradas com diálogos intensos em ensaística. Em meio ao colóquio sobre as memórias de Belo Monte, as vozes sertanejas aparecem na lembrança dos Fogos da Guerra e na intensa prosa do forte sertanejo Seu Ozébio. Um homem sábio e astuto em retórica que revela grandes segredos durante a narrativa, confirmando que as heranças da batalha estão vivas e ainda pulsam no sangue de todo povo do sertão mundo, pois “o sertão é um modo de ser, de pensar, de sentir e de viver” (p. 207). Outra grande sacada do texto acontece quando o narrador se depara entrevistando Euclides da Cunha. A união dos fatos: os debates entre os três amigos, as reveladoras conversas com seu Ozébio, o delírio insone, a arguta e nostálgica observação do narrador sobre a paisagem árida do sertão faz o romance de Aleilton despertar a voz lírica do espaço que transita entre o poético e o real, pela voz pendular da memória que estabelece a busca da identidade.
Por fim, O Auto do Belo Monte apresenta “sua missão indelével e incomensurável” (p. 186) no julgamento da Guerra e de seus desdobramentos. Nesse momento a narrativa abre espaço para a voz de personagens surpreendentes. Ao final do texto o narrador (re)descobre suas raízes sertanejas e se ouve novamente a voz do sertão a pendular: “O sertão vai virar cidade e a cidade vai virar sertão” (p. 207). A narrativa se fecha em páginas cheias de cantorias e sabores para abrir-se aos olhares de cada leitor e ratificar que as vozes dos sertões estão a cantar na consciência não só da venerada e “vetusta Senhora” (p.186), mas em cada um de nós apreciadores da história e da literatura, no grande palco chamado de vida.
FONSECA, Aleilton. O Pêndulo de Euclides. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2009.Texto: Gildeone dos Santos Oliveira.
Disponível em: http://gilsantoslinguagens.blogspot.com/2010/04/resenha.html acessado em 05/05/2010