terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

UMA INFORMAÇÃO, POR FAVOR! Aleilton Fonseca

Uma noite, meu filho me ligou, pedindo para ir apanhá-lo na casa de um amigo. Lacônico e despachado, como todo adolescente, contentou-se em me informar que estava no bairro de Brotas, no Conjunto Catavento. E desligou. Liguei de volta, mas deu caixa.
Conheço a região mais ou menos. E achei que acabaria chegando lá no tal endereço sem muito esforço. Ledo engano. Depois de rodar meia hora sem achar o rumo certo, admiti que estava perdido. Sem mapa nem paciência, parei o carro numa esquina e abordei uma velhinha, perdão, digo: uma senhora da melhor idade.
– Boa noite. Uma informação, por favor!
A boa senhora parou e, me olhando de esguelha, desconfiada, aguardou a pergunta.
– A senhora sabe onde fica o Conjunto Catavento?
– Cata o quê? – ela apertou os olhos e apurou os ouvidos.
– Catavento – repeti.
– Ah, é lá pra cima, perto da casa de comadre Sebastiana.
– E onde fica a casa de comadre Sebastiana? – arrisquei, ora!
– Perto do Conjunto Catavento.
Depois dessa, eu ia perguntar mais o quê? Fiquei tão abismado que arrastei o carro dali sem sequer agradecer pela valiosa informação. Segui subindo a rua, prestando atenção aos detalhes.
Mais adiante, havia outra bifurcação. Eu precisava escolher um dos caminhos a seguir. E agora? Felizmente percebi que vinha, a passos calmos, um senhor, também da melhor idade. Animado, eu o abordei:
– Boa noite. Uma informação, por favor!
– Pois não, cidadão – ele disse, solícito e perfilado.
Logo percebi, pelos olhos e pelos passos, que aquele senhor vinha, no mínimo, de uma animada mesa de bar. Assim mesmo, continuei a entrevista.
– O senhor sabe onde fica o Conjunto Catavento?
– Cata quem?
– Catavento.
– Ah, é por ali, olhe. O senhor vai ali desse lado, e segue, vai seguindo em frente... Chegando ali não tem minha casa? Então! Quando o senhor avistar minha casa, é logo ali, o Catavento.
Eu não ia fazer a bobagem de perder tempo com aquela conversa. Agradeci ao homem e fui indo na direção indicada. Quem sabe, adiante eu teria mais sorte. Segui em frente, sem perder a esportiva.
O lugar era realmente confuso. E eu, cada vez mais atrapalhado, não achava o tal endereço. Havia uma lanchonete. Parei ali, e resolvi telefonar para o meu filho. Explique que estava perto, porém perdido; precisava de alguma referência.
–Você está onde? – ele perguntou.
– Em frente a uma lanchonete.
– Ah, é perto. Olha, fica aí mesmo que eu já estou chegando.
Pois bem, tanto melhor. Pus-me a esperar. Daí a pouco, entre transeuntes e automóveis, eis que vejo de novo o senhor que me dera a curiosa informação. Ele me reconheceu. Parou, me olhou, veio em minha direção. Próximo a mim, notei que fazia uma cara de surpresa. Estava muito desapontado.
– Ué, o senhor não achou? Não me leve a mal, mas eu ensinei certo. O senhor foi que não soube raciocinar.
– Tudo bem, eu... – tentei me explicar.
– Eu não lhe disse que era perto de minha casa?
– É, mas...
– Olhe a minha casa ali, olhe! – ele apontava com ênfase.
– Qual? — não sei pra que perguntei isso.
– Aquela lá, pintada de azul e rosa.
– Ah, sim, estou vendo...
– Então! Logo depois, na esquina, já é o Conjunto Catavento.
– Ah, bom...
– Eu ensinei certo, o senhor foi que não soube achar...
– Me desculpe... – eu gaguejei, me sentindo um idiota.
– É, mas da próxima vez tenha mais cuidado – ele disse, tocando na cabeça com o indicador.
Gente, aquilo era demais! Ele passava dos limites. Eu ia responder alguma coisa a ele, mas meu filho já chegava e era preciso dar meia-volta. Mesmo assim, arrisquei me divertir mais um pouco, com aquela situação bizarra.
– Por acaso, o senhor é marido de dona Sebastiana?
– Sou sim, por quê? O senhor conhece Sebá de onde? – ele perguntou intrigado, apertando os olhos, cheio de desconfiança.
– Não, por nada... – eu disse isso, engatei a marcha e fui saindo de fininho.


Do livro "A mulher dos sonhos & outras Histórias de humor"

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